terça-feira, 10 de abril de 2018

Reflexo Vivo de um Caminho Vazio



Caminhos, um intrigante evento
me fizeram um insensato errante
busco em outros quereres trilhar
não me sinto bem neste acaso
preciso ser mais ou será apenas fruto do atraso

Na vida há encantos que não podemos avistar
Há praias que meu barco nunca irá navegar
Os sais do mar são prova do que não tomarei
Uma gentil peça cardíaca desvia-se das flechas
guiando-se contra purezas incertas

Mais que vida é menos sonhos
Ter mais sonhos, realça menos vida - neste caso
Sem vida não haverá outro sonho
pois que finda neles a própria vida

Não encontro ninguém no espelho
por mais que olhe são apenas portas o que vejo
ousar entrar-lhes penso se tento
Se dos pesadelos as portas guardam-me novo advento

domingo, 8 de abril de 2018

Pátria, mãe, nunca gentil: uma reflexão sobre a perda de uma valorosa guerreira


Pátria, mãe, nunca gentil, ódio a um hino tão mentiroso e manchado.

Escrevo hoje obedecendo o chamado de um eco. Um eco triste na noite. Um eco que machuca  a quem sabe que ferir machuca, que ferir dói. Que sangra... e que mata. Escrevo, como um desconhecido, mas que sente na pele o que é ser silenciado. Desprezado, espancado pela pátria, mãe, nunca gentil por permitir tal ato. Ela tem culpa sim, e a culpa vem de muito tempo.

Vem da absurda ação de um bando vil de colonizadores que pensavam ter razão em escravizar povos distintos, livres, de belezas e raízes verdadeiras. Hoje, aos olhos de muitos, são pessoas consagradas por suas “conquistas”, são heróis comemorados pelos sonhos que continuaram a construir: Um tombadilho cada vez mais dantesco. Imagine você em sua casa, a mãe lendo um jornal, o pai também, você está em seus afazeres e, de repente, algo dentro da casa, um barulho, vozes que não conhece, você procura ver quem são: pessoas estranhas, estranhíssimas, você nunca as viu na vida, entretanto percebe que suas fardas dizem muito. Elas dizem que ninguém na casa tem direito: ah, mas eu fiz a minha parte, eu paguei os impostos, o pai dirá, eu sou cidadão de bem, não sou qualquer psicopata ladrão, e a resposta, um tapa. O homem fica desmoralizado, a mulher tenta lutar, e a família vai para uma cela onde em ultima instância, descobrirá que é pior que gado, que não terá direito à sua casa, à sua morada de raízes distantes no tempo. E os advogados são chamados, mas para um juri viciado, você, mesmo justo e honesto como se diz, será sempre mais um culpado.  E você e tantos outros trabalham forçados. E você sai daquela bolha em que tudo estava bem e que o bar aos fins de semanas e as festas no de  período eram uma bem-vinda realidade. Não, o novo vem ali na frente e te arrasa.

Foi esse novo que veio aos povos mais belos desse mundo. Povos de príncipes, reis e princesas reduzidos a escravos. O novo te assusta; vem esse novo e te mostra belezas de coisas alheias a seu mundo; o novo mostra a ti a doença que não conhecia, o açoite que nunca experimentara, a pólvora que seu corpo sente arder; o novo te escraviza, te fere... e se não obedecer ao novo, ele te mata. Como celebrar o início de algo gentil quando o novo, a evolução de um país e sua história começaram com um ponto de exclamação ensanguentado: a Escravidão.

Se acaso sentir espécie, gastura desta palavra e do que ela representa, entendendo que cores de peles são diferentes e que, entretanto, elas são um empoderamento da alma por igual (somos todos sujeitos merecedores deste mesmo espaço mundo), então, estaremos, você e eu, no caminho certo. O caminho de sentir muita dor. Uma dor de nove tiros em todos os nossos pensamentos que buscam por igualdade. Um caminho de lutar contra uma cultura opressora. É o caminho que cassetetes sangram e que cavalos bosteiam corpos no chão. O animal não tem culpa de nada, o comando vem de cima... sempre de cima.

A questão do ser humano, como vivente, como pessoa, como alguém que sorri, como alguém que chora, e sente, e realmente sente, e foi um dia um bebê, que por trás de sua pele tem uma família, tem o lar que é esta Terra. Essa questão é apagada assim como as redes sociais também gostam de apagar hoje em dia a maioria esmagadora dos sujeitos.  Então o benefício próprio vem antes, não importando quantas cabeças. Todavia pensar que elas rolem e se enterrem em algum campo de despejos tristes, é um engano muito infantil.
Tornam-se, assim que são desviadas do caminho de suas vidas, sementes. E estas sementes fecundam um solo que punge vida. Esta gritará como nunca o mesmo que foi pensado e lutado por aquela semente, esta sim, mãe gentil, passará de raízes a galhos toda a sua sabedoria e, para desgosto do lenhador,  a árvore que tão duramente teve de suar para ralar, multiplicou-se.

Amizade, a luta não tem fim, amizade. A luta contra o ódio começa bem cedo: com o seu colega justificando deixar o lixo na mesa ou no chão, porque terá quem limpe; com os rótulos e as fantasias que na infância são ensinados a tratar o pobre, o paupérrimo, o negro, o "diferente"; com a nossa pátria, mãe, nunca gentil que não vê a miscigenação de um povo tão plural nem mesmo em seu hino.

É com nove tiros num carro levando uma guerreira que fez seu caminho saindo das raízes direto da favela para o mundo em busca de vidas melhores para os seus, que nos comovemos e pensamos e, pior de tudo, realmente temos total segurança de dizer que não há gentileza no país em que vivemos. A constante mudança do polo humanitário para o polo empresarial (entenda-se capitalismo fascistóide em sua mais pura essência), tem levado vidas, arruinado famílias e destruído sonhos. As vidas de pessoas como Marielle, que lutava contra o descaso nas favelas, contra a repressão policial e a doutrinação da hegemonia branca. Contra a tomada dos direitos que o povo pessoas de carne e osso, não plutocratas cujo maior amor é o dinheiro; ou religiosos cuja doutrinação atravessa os limites da razão. Mas a mente do homem muitas vezes é pequena, torna-se fácil a sua manipulação, principalmente quando ele é fomentado pela ilusão de que a ciência, a filosofia, o pensar diferente, o sair da caixinha de pandora entorpecida de hóstias podres, são crimes passíveis de tortura e morte.

Uma belíssima guerreira se foi, sim, mas não seu ideal. Marielle deixou uma mensagem como Vladimir Herzog, também, quando foi assassinado: que a intolerância, a bomba, a borracha, o colarinho branco, os engravatados vontades hediondas, os juízes desprovidos da magia que estudaram para dar luz aos injustiçados e a mídia plutocrata, fútil, alienadora e vilã dos direitos humanos, devem ser derrotadas, e serão derrotadas, pois acreditavam que enterrariam um ideal, não sabiam que este ideal seria semeado por quem está do lado certo.  O lado da humanidade.

Avante, luzes da humanidade, brilhem e semeiem o bem. Brilhem a vontade de uma mulher incrível que foi tirada de maneira ignóbil de sua vida. Ela foi retirada de sua paz, e por ela e tantos outros, devemos zelar por um país de paz. A luta é com medo de cair, mas sem medo de lutar como ela, que contra todas as impressões e paradigmas sociais da alta burguesia, ergueu-se, lutou e conquistou muito mais do que um lugar como vereadora da cidade maravilhosa. Marielle Franco é um verdadeiro ideal, e um verdadeiro nunca morre, apenas se fortalece.

Apenas um texto, em homenagem a uma mulher que deverá ser lembrada por toda a história do mundo enquanto ele for mundo.

sábado, 7 de abril de 2018

O Gigante


Ah, Outono, que tuas folhas caiam
que seu riacho derradeiro encha as ruas
que o clangor da massa atravesse ventos
atravesse ventos, no maior dos intentos

É, Outono, você chegou, e de luta vestiu as ruas
Abriu as portas para os pequenos engrandecerem
para os doentes curarem-se das dores
para o Gigante rir-se de inimigos sem pudores

Pergunto-me quando, Outono, que tu fizeste sua morada no mundo
por que reagiu ao verão secando terras e sofrimento
por que antecede a neve eterna das geleiras
Por que Outono, foi escolhido para derrubar a maior das cerejeiras

Seus ventos me entristecem hoje, o caminho já foi traçado ao Gigante
Vê-lo partir, mesmo sem conhecê-lo é adormecer sem sonhos sentir
É respirar sem ter ar para abraçar os pulmões
É não sangrar a dor que fere e avassala os corações

Dentro de seu seio, hoje nasceu um canto muito maior
Um que tem fome por colares, especialmente os brancos
O canto irá pelos ares, Outono, ao encontro deste reles algoz
Esta carga de sujeira, o podre e atroz
Virá em forma de hinos tantos
que pelo mundo entoarão

Não haverá Deus para você, Outono
Não serão guardados para os juízes, bons sonhos
A espada dos guerreiros, hoje, encontrou a aurora
A entrega do gigante nunca terá sido agora
em uma só voz

Levanta-se a resistência dos despossuídos
A força que pensam ser inválida, os egoístas omissos
Ela encontrará sim, além do Outono, as flores que a mão do Gigante rega
Para sempre os sonhos... os sonhos que as lágrimas fecundam
nos rios de uma nova e mais bela Primavera

quarta-feira, 14 de março de 2018

Primeira Graça à Poesia


Poesia é menina
Poesia é flor
suas palavras adentram a pele
seu som, muitos fascina
poesia se intenta, se inventa, se reinventa
poesia é demais poetisa

Poesia não é homem,
Poesia não é mulher
Poesia não tem gênero
ela é trans, é queer, é salsa e ballet
Tem batida de batuque, tem balanço de bolero
faz tudo aquilo que você quiser

Não tem fim nos olhos enamorados
Não morre nas lágrimas dos desgraçados
Adora chamar de seu o amor
Vê no trágico, cantos de esplendor
Adora-se por ser nua e bella
ama-se por ser das musas aquela
Aquela que inspira Gil antes da música
Aquela que diz a Caetano a sua lua

Poesia é sua namorada
poesia é minha amante
Poesia é o pai da vida
Poesia é a mãe de cada instante.

terça-feira, 13 de março de 2018

Sortilégio do Amante



Encontro-me hoje sem solução
o querer dela é uma dádiva
os olhos dela são meu contentamento
sua alma no pranto desaba

Eu caio, me levanto e me entrego
à beleza que ao vê-la me consome
ela me aquece sem em nada se deter
é o lume que aos anjos peço que retorne

É sol e lua, estrela e consolação
uma rainha de um amante abraçado à solidão
É ela que ampara, os sonhos flutuantes
de seu autoproclamado mais puro amante

domingo, 11 de março de 2018

Atendendo ao chamado das Mudanças


    Outro dia estava observando as estrelas. Elas brilham bastante, devem ser quentinhas, e tem jeito consolador também. E me fiz uma pergunta: Elas ficam paradinhas lá longe no céu? Será? Porque tem dias que eu as vejo em um lugar diferente, juro a vocês, elas não estavam no mesmo lugar de ontem. Ora, tolo aquele que diz que dá para se orientar por elas, sabia? Elas é que devem orientar-se por nós, pois, onde estivermos, elas vão atrás. No fim, somos iluminados por todas elas.

    Então me veio: se elas vão aonde estamos, isso significa que... Se mexem! Olhem só, elas se movem no céu. E isso é verdade? Vocês vão me perguntar e eu responderei, sim, é verdade; e vocês vão indagar, isso é bom, e eu direi, ora, mas é claro, isso é maravilhoso para todos nós; e teimosos ainda questionarão, mas é mesmo possível que elas nos façam isso, e eu respondo, não só é possível como é também de uma necessidade muito grande para todos nós.

    As estrelas – cada uma a seu jeitinho – zelam por nós nos seguindo e nos seguindo porque somos nós que as iluminamos. Ora, se não fosse por nós, elas não teriam brilho. Os animais, olham lá para cima e nada encontram porque não dizem nada, se encontrassem, nos diriam. É sim, essa é a razão para que eles não falem absolutamente nada. Seus bramidos são um pedido surdo para que as estrelas os ouçam, e, vai ver elas o fazem cada uma à sua maneira. Mas as estrelas estão lá em cima mesmo para a mulher e para o homem. Principalmente, aquelas que andam muito rápido no céu.

     Outro dia vi uma dessas. Foi uma sorte muito bonita, sabem? Ela viajava deixando tantas e tantas estrelinhas mais no céu que só o que quis foi pegar um pouquinho daquele pozinho de brilho celeste só para mim. Isso seria um egoísmo e, com grande efeito, não sou egoísta, então acometeu-me uma lembrança de mim, quando ainda muito garoto, fazendo pedido para uma dessas estrelinhas de cada felpuda e brilhante. Pedi a ela: dê-me uma pena e pergaminhos para fazer minhas histórias! Ela, tão singela no firmamento, no outro dia, não me atendeu. Chutei meus problemas todos na forma de um balde de água que escorreu todo pelo quintal. Minha querida avó que, hoje está junto às estrelas, virou para mim e me disse sabendo de meu pedido: calma que tudo se ajeita. Dei então conta de pensar nessa palavrinha estranha: ajeitar.

    Entretanto, é preciso deixar claro igualzinho cristal, que o entendimento dessa palavrinha não me foi rápido não. Precisou acontecer muito comigo para que eu compreendesse que nem tudo o que eu queria a estrela poderia me dar. Passado algum tempo de muito pensar sem em nada poder escrever meus pensamentos, juntei pedrinhas, de um lago próximo à minha casa e comecei a usá-las de maneiras diferentes, formando assim com elas, códigos, que me mostravam aquilo que eu gostaria de escrever. Na minha vila, escrever e ler, eram duas atividades muito bem quistas, não obstante serem também dificílimas. Para conseguir ler e escrever foram preciso apenas os meus pais e minha avó para me ensinarem, mesmo sem papel porque ainda é algo muito caro, e pergaminho bom não se acha numa vila pacata como estas. Mas voltemos às pedrinhas, desculpem o devaneio, eu estou muito velho e as mudanças me causam um pouquinho de falta ao encaminhamento lógico das ideias.

    Pegando cada uma das pedrinhas eu fiz um código e fiz questão de colocar elas enfileiradas em cima de uma prancha natural, lá dentro de uma gruta que hoje virou casa de um lobo bem maldoso... ou a mudança lhe veio, e ele já moveu para as estrelas lupinas... Não sei, me perdoem novamente, mas é que hoje eu posso escrever em pergaminhos e, isso tudo, me dá vontade de gastar linhas e linhas de escrita... é um mal, desculpem. Retornemos às pedrinhas: enfileiradas elas me indicavam mais do que apenas pedras de diferentes formatos e cores numa linha reta; indicavam-me os meus pensamentos e todos os dias eu ia atrás delas para ver se estavam no mesmo lugar do jeito que eu deixei. E como ficavam? Simples! Eu pedia à estrela que estava me seguindo, lá no céu que me vigiasse e às minhas pedras, para que assim, eu pudesse ajudar a ser realizado o meu desejo do pergaminho e da tinta.

     Um dia minha avó foi ver o que eu estava fazendo que não tinha ido almoçar como era o habitual. Descobriu que era porque eu estava na gruta tentando fazer com que as pedras se ajeitassem para o que eu queria dizer, mas não tinham pedras suficientes para tudo aquilo. Ela ficou estarrecida de ver minhas vinte e nove pedras em em fileiras, uma após as outras. Perguntando-me sobre o que eu estava tramando, disse a ela que ali estava escrito o meu pedido que apenas eu, e as estrelas, sabíamos o significado e que, por ser minha avó, acabou ela sendo a terceira outra pessoa a saber do meu querido desejo. Como restava uma palavra para uma última pedra, minha avó me deu seu anel que tinha uma cor diferente e branca, de modo que esta simbolizaria a palavra restante. Ela disse que isso também me faria almoçar logo, ficar com a barriga cheia e que, agora, minhas pedras teriam um sentido completo. Fiquei muito feliz e disse a ela para nós três entoarmos antes do jantar, o meu pedido para a estrela. E assim aconteceu, na hora do jantar, não sóela como também a minha mãe e meu pai, vieram para fazer o mesmo pedido.

    Olá estrelinha. Meu nome você já sabe. Diz para mim quando vamos nos encontrar novamente, pois sumiu, não me apareceu nunca mais. Venha e seja a mudança da minha sorte.

    Meu pai me perguntou prontamente por quê eu não queria pedir diretamente por pergaminho e tinta. Eu respondi que antes de querer meu desejo do pergaminho realizado que fosse sanada a saudade que eu tinha da minha estrela de cada brilhante. Eles assentiram, e todos nós fomos dormir. Mas, devo acrescentar uma coisa: tenho certeza que aquela última pedra branca do anel de minha avó, estava brilhando muito mais do que o normal.

    Naquela noite, fiquei olhando para as estrelas à espera de que meu desejo se realizasse. Sabia que ela apareceria, ela com certeza veria o meu esforço para tê-la de volta ali. Eu pedi várias e várias vezes, olhando o azul escurecido do céu e a pedrinha branca sendo iluminada pelo luar. Esperei calmamente até ver algo no céu. Fiquei um pouquinho tonto, os olhos caíram, as estrelas que eram muitas se tornaram muitas mais e finalmente eu vi lá em cima aquela linda estrela novamente. Desta vez estava tão feliz comigo, que deu até duas piruetas, indo se perder numa distância sem terra e sem chão para percorrer.

    Olhando de novo para o céu já era dia. Eu estava muito disposto, mas com um pouco de frio. Tomei meu chá e percebi que meus pais não estavam em casa. Não me importei muito com isso porque minha avó me indagou sobre a estrela e se ela tinha aparecido e eu, feito a ela o pedido dos pergaminhos. Isso me entristeceu profundamente, pois eu não fiz o pedido a ela. Ela me disse que novamente tudo se ajeitava, pois eu tinha sido um menino bom, e atendi à uma mudança muito mais significativa. Disse ela que um dia quando eu tivesse a tinta e os pergaminhos que tanto eu queria, eu compreenderia tudo.

    Depois do almoço, ao sair de casa, me dirigi novamente à pequena gruta. Ela estava mudada, minhas pedras não estavam mais lá! No lugar de todo aquele cenário estavam as minhas lágrimas e uma alegria tão grande que não guardei no peito. Comecei a saltitar procurando por ela e pelas pedrinhas que não estavam mais enfileiradas nem em lugar algum. Via, no lugar delas, dois frascos com tinta pretinha, três penas e quatro lindos rolos de pergaminho que davam o meu tamanho em altura. Não conseguia me conter e agradecia a todo o tempo a estrela que deveria estar sendo escondida pelo azul anil de um dia ensolarado. Corri para casa, que alegria mostrar aos meus pais aquilo, mas eles não estavam ainda lá. Só chegaram à noite dizendo que tinham uma coisa muito importante para fazer.

    Eu nunca soube o que fora isso, mas muito distante no tempo, percebi que algo mágico aconteceu e foi devido a um desejo físico ter dado lugar a um desejo mais profundo, que tudo pode ser realizado. Daí em diante, mudanças não pararam de surgir em minha vida e, todas elas, estavam relacionadas com os valores. Nada que fosse material teria maior valor do que meus atos ou meus sentimentos, e, por tudo isso, eu cresci. Meu maior querer, era ver a estrela de novo. Era maior do que qualquer outra coisa, pois ela nunca mais, depois daquele dia, me apareceria. E por pedir que ela uma última vez retornasse a mim, em vez de pedir pergaminhos e tinta, e ficar tão grato por revê-la, esquecendo-me do objeto no qual, hoje, debruço meus calos a escrever, ganhei o maior presente de todos. Uma lembrança, em meu coração, para todo o sempre.

sábado, 10 de março de 2018

Reflexão sobre os sentimentos


Primeiro fragmento de um livro puído, extremamente mal cuidado... Penso, por que será?


    Estou aqui para falar do que é o sentimento. Não sou um filósofo, não sou um psicólogo, não sou muito menos um historiador, senão, de minha própria vida, mas, posso dizer com toda a certeza do universo desbravado dentro de mim, que sei bem falar sobre ele.

    Ele vem das coisas mais sutis às coisas cujo tamanho não tem dimensão. Eles são coisas sutis também sem dimensão. Sentimentos dizem respeito ao toque das mãos em algo, ao rumor do vento nos ouvidos, sendo este o vento da voz, não da brisa gelada ou do ar quente. Sentimentos são paulatinamente construídos célula por célula de nosso corpo, pois causam o arrepio dos pelos, o jubilo do sorriso, a angústia entre a garganta e o peito, as lágrimas nos olhos, o brilho nunca extinto no olhar. São todas centenas de milhões de células, juntando-se para mostrar a você algo que está acontecendo no reino de seu universo. Sentimentos são os cosmos dentro de seu universo.
 
    Esqueça a designação do ódio por sentimento. Esqueça de vez, pois, até ele deixar de ser considerado assim, continuará sendo muito forte. Pois sentimento é algo muito mais forte que qualquer aspecto de negatividade in ou voluntária. Cesse de pensar que é devido à raiva que não pode existir sentimento, é o desígnio equivocado dela que gera em última instância o ódio; não há lugar dentro do espetaculo dos sentimentos para coisas torpes, insólitas, destruidoras. Sentimento não deve nascer e nem nasceu para destruir. Se foi tratado como sentimento agora é uma árvore nodosa, nociva e que deve ser expurgada pela raiz; tão grande é, que agora para cortá-la, é necessário a ajuda de milhões de indivíduos, não de apenas uma pessoa. Esta andorinha só no céu não poderá mover verões. Mas ela pode buscar-los, com outras e criar um V magnífico no céu para se salvarem, todas juntas. Cada um de nós pode fazer isso.
  
  Tomar conta de nossa parte se faz necessário para não deixar tais absurdos surgirem em nossa caminhada. É muito maior do que a falta que a falta faz. A falta de sentimento e de vê-lo como deve ser visto, é a cegueira voluntária. Fico pensando como as pessoas podem ser tão cegas à gentileza, ao tato, ao cuidado, alheias a tudo isso e, depois, buscarem motivos para serem merecedoras de seu lugar sem nada fazerem para ver os sentimentos do outro. Viver é uma dádiva que fora dada por nossos antepassados que passaram centenas de anos até chegar aos nossos pais, apenas isso, e neste interim, muito é internalizado, há muito a ser compreendido, a falta de sentimento (o ódio propriamente dito, o extrapolar da raiva), é uma delas.

    Não há como seguir por novos prados, sem deixar uma lágrima do possível nunca retornar, para trás. É impossível ir adiante sem o medo do que pode acontecer. O medo faz a coragem fluir em todo o nosso sangue, as células borbulham e a adrenalina explode fazendo com que hajamos na força de nossas necessidades. O medo é necessário, o medo é uma dádiva dentro dos sentimentos. Mas o medo também pode cegar a aqueles que não são capazes de trazer a espada da coragem para fora da bainha. Audendum est, fortes adjuvat ipsas Venus, não há fraqueza no sentimento, há a entrega à falta dele.

    O sentimento faz ousar para que não se esteja sozinho. Na verdade, ele nunca está sozinho. As células não cansam de lutar para mandar-lhe a compreensão. É através das sinapses que encontramos verdadeiro sentido do que está ao nosso redor. Sentimentos são impossíveis sem sinapses, sem levar do corpo ao cérebro algo com que se pensar. São gigantescas linhas curvando-se a esta tarefa designada pela natureza: pensar! O verbo pensar no sentido de ir, buscando acontecer e compartilhando a razão. Novamente o ódio se vê derrotado e expulso do sentimento, pois, enquanto o primeiro aparece para excluir o indivíduo da vida, seu lar, o outro vem apenas para agregar.

    Não posso viver pensando que as pessoas não tem noção do poder destes sentimentos tão grandes, e, principalmente, de talvez o maior deles. Sentir o frio na espinha, do gelar estranho no corpo que pode parecer um cessar do coração. O receio com a esperança que gera a coragem de agir para se livrar das garras da solidão. O sentimento, não causa solidão, é puro de seu sentido e seu sentir, apenas isso. Ele deve ser cultivado com um carinho que, hoje, à mercê da frondosa e odiosa sombra, vem sendo esquecido. Esquecer a semente do sentimento ali na sombra é o maior erro da humanidade, quando na verdade deveria trabalhar nos frutos da árvore de luz e, esta, sumirá com a outra dentro das sombras de uma unidade em que não foi feito escuridão em trevas. A escuridão, a noite, nada tem a ver com o véu negro. Ninguém deve temer a escuridão! Que sejam temidas as trevas! Pois das trevas que surgem os pesadelos odiosos que colocam os sentimentos à prova.

    Quando se perde um sentimento por alguém, isso não pode transformar-se em trevas, pois é neste momento em que o ser humano deixa de ser um “ser” para no fim, tornar-se coisa. Ele vai matar, ele vai acabar com uma alma, ele vai dar vasão à árvore que não deveria nunca ter nascido. E terá acabado com vidas inteiras. Não é necessário agredir ou matar para que uma morte involuntária surja – involuntária, aquela que não escolhemos ou não temos poder sobre a natureza que nos tira da vida – e nos conceda desesperança, desarmonia, desconsolo... a lista é infindável. O que faz uma pessoa não considerar a outra?

    O que faz tantos momentos felizes serem destruídos tão facilmente pela dor? É exatamete a fragilidade que todos nós somos malditos e culpados de termos sido responsáveis de gerar pela aversão a algo. Não adianta, é sabido e muito bem, de que o que traz paz a si não fere, não destrói. Se o fizer consigo ou com outra pessoa não terá sido paz, a inverdade virá na forma de decepções duradouras. Logo, quando não atentamos ao que traz paz a nós ou/e ao outro, estamos sendo reféns de uma maldade irreal. Maldito seja este conjunto de células que foi deturpado e causou o mal pela primeira vez. Depois disso, não teve volta. Então, as pessoas pensam que suas maneiras de agir serão tratadas pelo universo com justiça. Enganam-se, pois o universo interior busca harmonia e não é eximindo-se de suas faltas causando novas dores que vão conseguir fazê-lo. Estão tão enganadas... não conseguem enxergar que por agirem contra o outro, o universo de sentimentos dentro da pessoa fará questão de ser acometido pelas faltas, e isso, vai aproximá-lo de uma decepção maior ou tão grande quanto o que foi feito à outra. Se você fizer o mal, com o mal vai ter que viver. Então resta uma pergunta, prefere servir ao mal, ou partilhar o bem?

    O problema é que as pessoas pensam que o bem que fazem, a si apenas, basta. Que suas decisões não vão ferir o outro e, por isso, são mais importantes. Enganam-se, fazem um mal gigantesco a longo prazo pois estão reféns de outra coisa que não convém ao universo dos sentimentos: o egoísmo. Indivíduos pensantes não tem a capacidade de pensar no outro que está ao lado ou que tem um relacionamento com ele. Não se faz sentimento quando se pensa apenas em si, não. Sentimento não é uno, nem imparcial. Ele é uma parte, e se faz na parte que dá a vida e que não causa a morte.

    No universo dentro de cada um encontram-se estes gêneros que também são generosos conosco. Sentimentos são generosos por serem compartilhados, transmitidos, diferenciáveis. Não devem ser deixados fazer falta jamais...


    O excerto não acaba aqui... há outras páginas, mas preciso encontrá-las na livraria... quando encontrá-las, compilarei por aqui...